Granblue Fantasy: Relink | Um action RPG curto e competente

Granblue Fantasy: Relink | Um action RPG curto e competente

24/02/2024 0 Por Tony Santos

Apesar de ter aquela sensação de franquia nova, Granblue é um velho conhecido dos fãs de jogos gacha. O jogo original foi lançado para aparelhos mobile e navegadores, é um jogo comum de celular de hoje em dia: existe um gameplay irrisório que serve como elemento para fazer o jogador gastar dinheiro com a moeda interna do jogo, que pode proporcionar a ele novos personagens.

No Granblue Fantasy original, as batalhas são de turno e os personagens são apresentados em forma de sprites 2D, relembrando os remakes dos primeiros Final Fantasies para o PSP.

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O estilo de arte é bem bonito, remetendo a pinturas renascentistas misturado com o estilo comum de anime. Inclusive, um dos artistas resposáveis pelo jogo é Hideo Minaba, que trabalhou em jogos como Final Fantasy Tactics, Final Fantasy IX e Final Fantasy XII.

Seu estilo é bem característico, pois tem uma estética de livros de contos de fadas e personagens com feições bem humanas, com olhos pequenos e proporcionais, diferentemente do que normalmente se vê em animes.

Muito bem, isto posto, Granblue Fantasy: Relink abraça suas origens mobile e continua a narrativa de seu jogo mobile, e isso é uma faca de dois gumes. Entenda o porquê.

Granblue Fantasy Relink

Créditos: Cygames

A história que começa pela metade

Jogadores do jogo mobile se sentirão em casa, caso eles leiam a narrativa do jogo de celular enquanto jogam. Porém, quem começar a conhecer o mundo de Granblue através de Relink vai ter uma certa dificuldade para se adaptar.

Em Relink, a história começa assumindo que você conheça todos os personagens da história principal. O protagonista, chamado de Capitão pela dublagem, mas que pode ser homem ou mulher — e isso pode ser trocado a qualquer momento do jogo — é acompanhado de diversos outros membros de equipe, mas principalmente por uma menina chamada Lyria, que tem uma ligação de alma com seu personagem, que não é explicada na história desse jogo, mas é ligeiramente abordada durante o jogo.

Toda história dos personagens e suas relações vêm da narrativa do jogo de celular e, assim como a história dos outros personagens, é abordada em forma de “episódios”, que podem ser acessados na central da guilda, junto com outras missões.

Essas narrações de partes vindas do gacha são apresentadas de forma preguiçosa, com narrações feitas sobre texto em tela, com algumas imagens estáticas aparecendo de fundo.

Em alguns pontos específicos, essas narrações dão lugar a pequenas missões de combate, onde o jogador controla o personagem em questão, mas elas nunca variam muito além disso.

Sabendo que elas não são tão interessantes, a CyGames até tenta recompensar o jogador, dando pontos de experiência ou outros bônus consideravelmente bons para aqueles que se submetem a essas torturas, mas tudo isso teria sido evitado se a escolha da história principal simplesmente contasse a origem dos personagens ao invés de continuar o que um jogo que nem todo mundo jogou.

Granblue Fantasy Relink

Créditos: Cygames

Ok, a história de verdade

A narrativa de Granblue Fantasy: Relink (e do restante da franquia) se passa num mundo de fantasia medieval fantástico, onde as pessoas e outras raças vivem em ilhas no céum, cada uma contendo uma cidade.

Seu grupo, liderado pelo protagonista/capitão, viaja pelos céus em sua aeronave, em busca da ilha lendária chamada Estalúcia. Durante o começo da narrativa, Lyria, a menina de cabelos azuis, é sequestrada e se torna o mcguffin inicial, sendo o motivo que leva os personagens a viajar pelos lugares em busca da mesma.

Ela é sequestrada pela vilã principal do jogo, mas durante o caminho, o jogador encontra alguns outros antagonistas que voltam a aparecer mais para o fim da narrativa, onde o plot se volta para o clássico ato de salvar o mundo, onde o famigerado “Poder da Amizade” dá um tom pobre à narrativa, que seria melhor caso usassem menos estereótipos de roteiro como esses.

Créditos: Cygames

Ambientação e cenários

Como dito acima, o jogador viaja por algumas — eu usaria a palavra “diversas” aqui, mas seria exagero — cidades e cenários, como uma ilha de lava, florestas, um deserto enorme e uma montanha de gelo. São áreas bem diversificadas, com mapas bem complexos em sua estrutura.

Afinal, estamos acostumados a ver em JRPGS, cenários retos e simplórios. Repara só: quantos JRPGS que você já viu que os mapas das dungeons consistem em salões quadrados, com pouca ou nenhuma elevação, ligados por pequenos corredores? Quando não é isso, são corredores que volta e meia possuem um desvio, que leva a algum baú ou encontro infortúnio contra algum inimigo.

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Em GFR houve uma clara preocupação em evitar isso. As cidades são muito complexas, em seu mapa e artisticamente também. Já as dungeons ou cenários que o jogador visita são igualmente detalhados, e a exploração dos mesmos é recompensada sempre; seja com itens ou encontros com inimigos diferenciados que dão mais experiência.

A verticalidade desses mapas é um diferencial, pois nem sempre um caminho diferente está claro, e tudo parece bem natural, o que é surpreendente, ainda mais dada a natureza e a origem do jogo. Nesse quesito, a CyGames está de parabens.

Créditos: Cygames

Jogabilidade

O estilo de jogo de Relink difere muito de sua fonte mobile. Ao invés de um jogo 2D com batalhas em turno, temos um jogo de ação com elementos de RPG, que me lembram três games em específico:

Tales of Arise, pela estética visual e o combate;
– A série Musou/Warriors, também pelo combate e pela fraqueza dos inimigos;
Monster Hunter, pelo multiplayer e as missões paralelas.

O combate é bem ágil, com cada personagem tendo características sutilmente diferente uns dos outros.

O protagonista é o clássico espadachim, com golpes fortes e fracos atrelados aos botões quadrado e triângulo. Alguns outros personagens como a Io funcionam melhor à distância, pois usam magia ou armas de fogo, como Rackam, que pode atingir inimigos de longe com sua espingarda.

Inclusive, não faz sentido em um jogo que você controla tantos personagens, não ser possível trocar entre eles durante as lutas. Isso só pode ser feito no menu de pausa e fora de combates, o que deixa o gameplay um pouco mais duro e faz com o que o jogador acabe focando em um único personagem por um bom tempo ao invés de alternar entre os quatro de sua party.

Créditos: Cygames

Ao subir de level ou derrotar um inimigo mais forte, você recebe itens para distribuir na sua já manjada lista de perks, que dão habilidades novas ou aumentos nos status.

Esses pontos não são individuais para cada personagem, então é possível lutar com personagens de nível mais alto para ganhar pontos para distribuir entre os que estão fora da party.

Esses personagens de fora também ganham XP, mas não na mesma proporção dos que estão em luta, então caso você queira por algum motivo upar todos, será necessário grindar ou ficar variando a party ao longo do gameplay.

Num geral, mesmo que exista por aí um tier list com os melhores personagens do jogo, o ideal é você escolher os que mais te agradam e formar uma party com quatro.

O protagonista não pode sair, mas você não precisa controlá-lo nunca, tirando nas missões paralelas dos outros personagens.

Ainda sobre sua origem em gacha, volta e meia você adquire tickets para invocar novos personagens. Esses não tem participação direta nos diálogos de história, mas falam coisas que durante o gameplay, têm sim a ver com o que está acontecendo no momento específico da história, a fim de não aliená-los.

Créditos: Cygames

Exploração

Fora de combate, Granblue Fantasy: Relink é bem competente em fazer o jogador interagir com os cenários. Como dito bem mais acima neste texto, os mapas possuem um certo nível de verticalidade e interação que não são muito comuns em JRPGs, ainda mesmo nesta geração.

As cidades infelizmente não possuem mapas, contando apenas com a já estabelecida barra de bússola no topo da tela. Mas, como existem diversos caminhos, em alguns momentos fica difícil encontrar um NPC específico ou pontos de interesse.

A sorte é que nenhuma dessas interações é feita muito durante o jogo, já que sua história é bem curtinha.

Em alguns momentos da história, cenas de ação com diversos set pieces legais aparecem, como fugir de um vulcão em erupção ou controlar MECHAS em determinados momentos da história.

Esses momentos são muito bem executados. Um destaque é a luta contra um inimigo gigante, onde você precisa escalá-lo para lutar contra ele, no melhor estilo Shadow of the Colossus.

Todos esses momentos fora da curva são surpreendentemente bem executados na engine do jogo, e demonstram como os seis anos de seu desenvolvimento foram bem aproveitados para contar a história principal do jogo.

Afinal, seria muito fácil enfiar um monte de dungeons retas e diálogos vazios — apesar que isso até que tem bastante, infelizmente, mas a CyGames se deu ao trabalho de fazer momentos esticamente bastante agradáveis.

Não só isso, mas as cutscenes são bonitas e bem animadas, lembrando muito jogos baseados em animes, com cenas dinâmicas e bem executadas, todas na engine do jogo e em tempo real.

Granblue Fantasy: Relink

Créditos: Cygames

O pós-game e o grosso do jogo

A campanha de Granblue Fantasy: Relink é bem curta, durante no máximo umas 20 horas, se você jogar com calma e explorar cada cantinho do cenário e fizer as missões paralelas e lutas extras.

Após isso, temos os créditos, fechando aquele pequeno arco de história, mas que infelizmente não dá um desfecho pra nada, deixando todo mundo no mesmo status quo de antes do game.

Só que aí começa o verdadeiro GranBlue Relink. Diversas missões ficam disponíveis, e o jogo libera o teleporte entre pontos de interesse dentro do mapa do jogo, tornando a exploração algo totalmente do passado.

Durante a história principal, o jogador encontra diversos loots que não possuem função alguma, nem para forjar armas nem nada.

Porém, eles começam a fazer sentido no pós-game, pois eles são usados para fazer outros itens melhores para seus personagens.

A forja serve para criar armas melhores ou melhorar o nível delas, e isso requer drops específicos de missões, além de dinheiro.

Granblue Fantasy: Relink

Créditos: Cygames

Aí que o pós-game começa de verdade, pois o jogador pode marcar no menu os itens que precisa. Depois, ao ir na tela de seleção de missões, é possível ver quais delas dão os itens que o jogador quer. Daí é só abrir a missão e passar dela.

Isso pode ser feito online com amigos ou sozinho, mas a complexidade das missões aumenta em um ponto que o jogo realmente fica mais divertido com pessoas ao seu lado.

Para este review, não tive a oportunidade de jogar online, pois foi me dado a cópia do jogo no PlayStation 5 e é necessário assinatura da Plus, coisa que não tenho.

Mas, ao ler relatos de amigos ou em outros vídeos, é possível notar que várias mecânicas do jogo são voltadas para essa interação entre jogadores, como algumas skills que se ativadas em sequência, dão mais danos nos inimigos.

Elas podem ser a ativadas no modo single player também, mas o fator “VAI ATIVA SUA SKILL AÍ” que isso pode gerar numa call durante o jogo, gera potencial para muita diversão em conjunto.

Granblue Fantasy: Relink

Créditos: Cygames

 

Conclusão

Granblue Fantasy: Relink é um Action RPG bem competente em sua estrutura. Apesar de uma história curta e pouco desenvolvida, a jogabilidade carrega o jogo por conta própria, já que suas mecânicas e estrutura geral sustentam um um gameplay que pode render umas 200 horas, caso o jogador queira se dedicar ao end-game.

Para futuros lançamentos, seria interessante que a CyGames desenvolvesse uma história fechada, que desenvolvesse os personagens sem depender de outros jogos.

Além disso, na dificuldade normal, o jogo fica trivial, principalmente se o jogador fizer todas as missões paralelas que aparecem durante a campanha.

As músicas são boas, mas nada marcantes, mas servem para ilustrar o tom mais épico dessa aventura fantasiosa.

Caso você queira um jogo de ação para jogar com os amigos durante uma call, ou um RPG curto para matar a sanha de zerar um jogo nesse gênero, Granblue Fantasy Relink é uma boa pedida, mas não espere uma história muito marcante, pois o forte dele está mesmo no loop de gameplay.

Prós:

  • Gameplay divertido com diversos personagens com jogabilidade variada;
  • Multiplayer com premissa divertida que sustenta o pós-game
  • Momentos de ação e exploração que às vezes extrapolam o que se espera de um jogo do gênero

Contras:

  • Falta de mapa nas cidades faz falta;
  • Campanha curta e com expectativa que o jogador conheça o jogo de celular;

    Nota: 7,5

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Esta análise foi feita com uma cópia do game para PlayStation 5, gentilmente cedida pela CyGames.
Granblue Fantasy: Relink está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC (Steam).