Raccoo Venture | Agarra o Guaxinim, Soltaram o Guaxinim

Raccoo Venture | Agarra o Guaxinim, Soltaram o Guaxinim

29/12/2023 1 Por Geovane Sancini

Oh boy, esse texto tá atrasado… PRA CARALHO. Mas enfim… Eu NÃO tenho nostalgia da geração 32/64 bits, como a maioria das pessoas. Sim, eu joguei alguns dos jogos dessa geração, mas ou eu joguei muito tempo depois, como o caso de Crash Bandicoot, por exemplo, ou eu não joguei o suficiente pra ter me marcado. Então quando um jogo moderno fala “ INSPIRADO PELO CLÁÁÁÁSSICO DO PS1”, minha resposta é uma cara de bunda sem expressão. Não é que tal jogo não tenha seus méritos, mas ele não vai me capturar por essa inspiração.

Vou citar um exemplo, o plataforma 3D Frogun, que apesar de ser claramente inspirado pela geração 32/64 bits, me chamou a atenção porque o design me remeteu ao jogo Gurumin: A Monstrous Adventure, da Nihon Falcon, pra PC, PSP e 3DS. Ou seja, o jogo não me chamou a atenção pela semelhança a geração clássica, mas porque me lembrava outro jogo que eu joguei.

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Uma coisa que parece que está se tornando comum aqui no Arquivos do Woo, é eu fazendo análise de jogos que estão em Acesso Antecipado, ou saíram do Acesso Antecipado. E o jogo de hoje, não é uma exceção a isso. Em 2020, o desenvolvedor solo Diego Ras lançava Raccoo Venture no Steam. Sendo um platformer 3D, o jogo chamou bastante a atenção durante o desenvolvimento, e conseguiu um bom resultado.

E agora, em 2023, com a ajuda da QUByte, o jogo, assim como Freeza, chega a sua FORMA FINAL, com um lançamento completo, incluindo portes para os consoles. Será que ele vale a pena seu tempo e dinheiro, ou assim como Toren, ele tropeça e falha em sua execução? Confira conosco.

Reprodução: Diego Ras, QUByte Interactive

A Importância de Raccoo Venture no cenário brasileiro.

Geralmente, na primeira parte do texto eu falo sobre a história do jogo, algumas groselhas, mas aqui achei necessário falar sobre a importância que um plataforma 3D brasileiro tem no cenário de jogos nacionais. Temos alguns excelentes jogos em 2D, e outros em primeira pessoa que são promissores. Quanto a 3D… A infame referência é Mineirinho, e muito do que foi feito no passado em 3D, ou era shovelware licenciado (exemplo aqui, Acquaria, aquele baseado no filme de Sandy e Junior), ou batia na trave na execução, como Toren. Podem haver outros jogos 3D bons lançados ao longo dos anos aqui no Brasil? Sim, mas eu não topei com eles. Bem, eu topei com um promissor uns anos atrás, mas está em development hell, ou pelo menos em ritmo bem lento. Path of Calydra chamou minha atenção, mas a última atualização da página oficial do Facebook foi em agosto, então não sei.

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Então pra quem está acostumado a ver títulos de plataforma em 3D feitos por equipes pequenas lá fora, como Castle on the Coast (que analisamos) e A Hat in Time, é bom ver um feito aqui no Brasil, e principalmente, um feito com qualidade. Desenvolvimento de jogos em geral é uma parada custosa e demorada, só perguntar pro Jon Satella QUANTO ele gastou em Pocket Bravery. E apesar de como jogadores, querermos ver os jogos prontos o quanto antes, ter certeza de que o produto está o mais bem polido possível é a prioridade, se o desejo é o de um produto bem sucedido. Alguns optaram por adiar o jogo até o ponto em que graves bugs estejam fora do jogo, como foi feito com Pocket Bravery, ou lançar o jogo em acesso antecipado e ter o feedback da comunidade para melhorar o jogo, que foi a rota que Raccoo Venture seguiu.

Outra coisa importante, é que Raccoo Venture é um platformer 3D tradicional lançado para PC e consoles, vindo de um país que devido ao poder de compra baixo, muita gente acaba optando por jogar no celular, já que é um entry point mais barato, o que leva muitos desenvolvedores pequenos colocarem seus jogos no Android, como o pessoal da Double Dash que fez o jogo do Irmão do Jorel que saiu pra PC e celulares.

Finalizando essa parte, apesar dos defeitos que apontaremos junto as qualidades do jogo, espero que Raccoo Venture se torne um ponto de referência para desenvolvedores solo que gostariam de ir pela rota 3D do desenvolvimento.

Reprodução: Diego Ras, QUByte Interactive

Quase como Mario 64, para o bem e para o mal

Em termos de controles, Raccoo Venture é ideal para iniciar novatos no gênero de plataforma, aquele seu irmão, sobrinho ou filho mais novo, porque não tem muito como errar, você tem um botão de pulo e um para agarrar, soltar e arremessar objetos. E isso é mais do que suficiente para a quantidade de ações possíveis. O botão de “agarrar” também é usado pra uma bundada, que é a principal forma de ataque do nosso guaxinim.

Existem outras ações contextuais que o jogo explica antes de uma seção aparecer, como frutas especiais que atraem um inimigo especifico para o local arremessado, permitindo o jogador dar um olé nele (esses inimigos não podem ser derrotados com bundadas), e usar frutinhas em caldeirões para fazer plataformas surgirem. Os inimigos começam feitos burros feito uma porta, mas conforme se avança, surgem inimigos com espinhos na cabeça que precisam ser explodidos com bombas, e outros com capacetes, que precisam ser atordoados antes de serem derrotados.

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As fases possuem itens coletáveis que podem estar em locais óbvios ou mais escondidos, que vão dos coletáveis relacionados a história do jogo, como as peças do tabuleiro de xadrez, estátuas do Saci e roupas extras que podem ser vestidas na casa de Raccoo. Aliás, para o lançamento final, um concurso foi feito e dois designs foram criados por fãs, um deles sendo feito por Juca Jacaré, que fez um cosplay do personagem Red, de seu jogo Dino Fighters (um jogo de luta em produção para o Mega Drive).

A parte que me referia ao Mario 64, é justamente a questão do progresso do jogo estar ligado ao número de coletáveis adquiridos no total, o que frustra um pouco aqueles que só querem passar pelas fases. Não é nada que tire muito do valor do jogo em si, só é chato você se empolgar após matar um chefe e aparece: “VOCÊ PRECISA DE X E Y PRA PROSSEGUIR”. Bem, voltando e passando a limpa nos coletáveis… Pelo menos não preciso fazer BLJ’s…

Reprodução: Diego Ras, QUByte Interactive

Esteticamente bonito e sonoramente agradável

Mesmo se a gente Raccoo Venture foi feito por um desenvolvedor solo, a apresentação do jogo é muitíssimo bem feita, da interface de usuário aos gráficos, que apesar da certa simplicidade, se compararmos com outros jogos 3D famosos, não chega a apelar para o Low Poly. Os cenários começam simples, mas vão ganhando complexidade, conforme se avança no jogo. O mesmo vale para o design de fases, que faz uma coisa que jogos antigos faziam com maestria: Ensinar enquanto se prossegue.

O que quero dizer com isso? Apresentar uma mecânica de maneira segura, e reimplementá-la posteriormente de um jeito desafiante. Apesar de ter tutoriais ensinando as mecânicas, o jogo não carrega a mão do jogador pelas situações do jogo, o que pode irritar jogadores de filmes de 30 horas, mas pessoas com mais de duas células nervosas agradecem.

A trilha do jogo complementa muito bem a ação do jogo, sendo gostosinha de ouvir. Apesar dos temas não serem do tipo “vou grudar na sua cabeça feito composição do Yuzo Koshiro”, elas são boas músicas, e tornam a jogatina de Raccoo Venture bastante agradável. Não pagarei o compositor um pão com mortadela, que é minha premiação pra compositores brasileiros de musicas de jogos que grudam feito chiclete, mas você fez um bom trabalho, compositor.

Reprodução: Diego Ras, QUByte Interactive

Se puder, jogue Raccoo Venture

Esse é nosso veredito final. Pra terminar o ano de 2023, a QUByte lançou um grande jogo, um bom platformer 3D que pra alguns pode ter sabor das antigas, mas na minha opinião, um jogo não pode somente sobreviver na base de nostalgia bait, mas por seus próprios méritos, e Raccoo Venture não precisava nem ser um jogo inspirado por jogos de plataformas antigo, ele consegue sobreviver sem isso, sendo criativo e divertido por si próprio.

Nota final: 9/10

Raccoo Venture está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch, e essa análise foi feita com base numa cópia de PS4, gentilmente cedida pela QUByte.