Kao the Kangaroo | Um reboot feito com amor

Kao the Kangaroo | Um reboot feito com amor

11/10/2022 1 Por Geovane Sancini

Nos anos 90, uma coisa que explodiu com a popularidade de Mario e Sonic, foram os platformers com “massacotes”, digo, mascotes. Em 2D, surgiram muitos que foram esquecidos… Ou trazidos de volta sem que ninguém pedisse (Bubsy, estou olhando pra você), e com o advento do 3D, outros foram surgindo, com a tendência indo até a primeira metade dos anos 2000. Tivemos Crash, Croc, Spyro, Gex, Rayman (apesar dos dois últimos terem começado com jogos 2D, eles continuaram no 3D), Banjo, Ratchet & Clank, Jak & Daxter, Sly Cooper e por aí vamos…

Em 2000, a polonesa Tate Multimedia fez a sua contribuição, com o primeiro Kao the Kangaroo pra PC, que depois ganhou um porte para Sega Dreamcast… E uma versão pra GBA, que foi publicada pela TITUS, e seguindo a tradição de jogos publicados pela TITUS, era uma desgraça… As versões de PC e Dreamcast? Bem, era basicamente um clone de Crash, que apesar de charmoso, era mediano.

O segundo título, Kao The Kangaroo: Round 2, de 2003, é uma melhoria imensa em relação ao primeiro, com a adição de um Hub World, jogabilidade mudada (poderíamos chamar ele de clone de Rayman 2), o jogo saiu para as principais plataformas da época (PC/PS2/Xbox/GC) e ganhara um porte pra PSP 2 anos depois, intitulado Kao Challengers. E no mesmo ano de 2005, exclusivamente para PC, tivemos o terceiro jogo da série, Kao The Kangaroo: Mystery of the Volcano, que funciona mais ou menos como o segundo jogo, com melhorias aqui e ali, dependendo do humor do jogador. O que eu quis dizer com essa última frase? Não sei.

LEIAM – Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder´s Revenge | Análise

Com a onda de jogos antigos sendo trazidos de volta com resultados variáveis (Crash e Spyro por exemplo se deram bem, apesar de nada de Spyro novo, já Blade Runner e o Knights of the Republic 2 pra Switch… Quanto menos falarmos sobre eles, melhor.), muita gente estranhou quando a própria Tate anunciou que estava trabalhando em um reboot pra Kao the Kangaroo. Claro, que a resposta da maioria foi: Quem? E pras 3 pessoas, incluindo Nitro Rad, que jogaram os jogos originais, não fazia tanto sentido, porque dos platformers 3D dessa época, o Kao se encaixa na categoria dos esquecidos. Mas, estamos aqui, com Kao the Kangaroo… Será que ele vale seu tempo, ou é só um cashgrab pra focar na nostalgia?

Confira conosco.

Kao the Kangaroo

Créditos: Tate Multimedia

Assim como Velozes e Furiosos, é pela família!

O plot do jogo tem uma mudança de temática em relação ao original. Enquanto que lá, éramos um canguru com luvas de boxe que tínhamos que salvar nossos amigos animais de um caçador do mal, aqui, o pai do protagonista está desaparecido tem algum tempo, assim como a sua irmã.

Kao decide ir atrás da irmã, que de acordo com um pesadelo possivelmente profético, pode ter informações acerca do desaparecimento do pai deles, e nisso, vai enfrentar uma criatura maligna do mal que pode trazer a ruína… Ou algo do tipo. O plot do jogo é básico, e não é necessariamente algo ruim. É um platformer que tem como publico alvo jogadores mais novos, ele não precisa de uma premissa ultra complexa pra funcionar.

E a série nunca foi popular a ponto de precisar de ramificações de lore, como Sonic fez a partir da geração Adventure. Enfim, ao que se propõe, o enredo de Kao cai como uma luva (get it? Porque o personagem usa luvas).

Descer a porrada em malfeitores é gostoso… Assim como a exploração e o platforming.

A jogabilidade de Kao the Kangaroo mistura algumas das coisas que já são comuns em platformers 3D, ou seja, exploração de áreas, resolução de puzzles e combate mano a mano. O combate do jogo é extremamente competente em 95% do tempo. Você tem combos básicos, um rolamento, que funciona como esquiva, saltos pra atingir inimigos em locais altos com ataques aéreos, e um super ataque que funciona com a barra logo abaixo da barra de vida. Tudo funciona bem, exceto quando você usa a função de travar a câmera em inimigos do seu tamanho. Aí a câmera fica meio ruim, mas essa função de travar a câmera funciona bem contra inimigos grandes e chefes.

Para entrar nas fases, é necessário coletar determinadas quantidades de runas, tal qual as estrelas em Super Mario 64. e essas runas podem ser coletadas nas áreas de HUB, ou dentro das fases em específico. E sim, áreas de HUB no plural porque temos mais de uma e cada uma delas é única e reflete a temática das fases encontradas nesses HUBs (ou o contrário, as fases refletem os HUBs).

LEIAM – Metal Hellsinger – Doom no Tatsujin

Nessas áreas, você, além de encontrar runas, existem coletáveis, como a moeda in-game para desbloquear roupas e outras coisas já comuns em platformers 3D para o 100%. Kao não é um jogo relativamente longo, a campanha principal pode levar cerca de 6. 7 horas, com um pouco mais sendo necessário para o tal do 100%.

Considerando que certos jogos (cof cof CRASH 4 cof cof) focam em repetição EXTREMA de algumas coisas só pra parecer que tem mais conteúdo, quando você só tá fazendo as mesmas fases 10 vezes, Kao não demora mais que o necessário.

Kao the Kangaroo

Créditos: Tate Multimedia

Um jogo maravilindo

Visualmente, Kao the Kangaroo é bonito, especialmente não se tratando de um AAA. Os cenários são ricos em cores, detalhes e num geral, são de tirar o fôlego. O redesign de Kao, na minha opinião traduz bem a essência do personagem a um novo público, mas pra quem é fã do original, vai perceber que algumas coisas clássicas ainda estão lá. É possível desbloquear o modelo original, assim como as roupas de Kao: Round 2 e Kao: Mystery of the Volcano.

Não apenas isso, mas a atenção aos detalhes do personagem foi traduzida nas animações, como a animação parada do Kao, onde ele começa a pular corda, trazida dos jogos clássicos.

LEIAM – Ultraman Decker | Primeiras Impressões

A dublagem, apesar de não contar com nomes famosos, dá pro gasto, e se utiliza de dubladores poloneses, garantindo um pouco de autenticidade, ao invés de apelar pra dubladores americanos, como seria esperado.

As composições do jogo ditam o clima das fases, contando com variações durante a mesma, e as áreas em si possuem temas de combate únicos, tornando a experiência auditiva de Kao the Kangaroo bastante agradável.

Créditos: Tate Multimedia

Uma obra feita com amor

É curioso ver que a indústria dos jogos às vezes vai na contramão do que Hollywood faz. Enquanto que Hollywood basicamente regurgita as mesmas ideias de maneiras desnecessárias (só ver os remakes da Disney), a indústria de jogos consegue traduzir velhos jogos a um novo público de maneira satisfatória.

Claro, as vezes ainda tem aquele remake ou remaster desnecessário e/ou mal portado, mas quando se coloca gente que possui um carinho e conhecimento pela obra original, temos bons remasters, reboots e até mesmo jogos novos. Esse ano tivemos o retorno de Klonoa em grande forma, além do excelente TMNT: Shredder’s Revenge (apesar do título não refletir muito no plot do jogo), e posso dizer com certeza que Kao The Kangaroo faz parte desse time de jogos que traz algo do passado pra um publico novo com sucesso.

Muitas vezes, quando quero recomendar um jogo e sei que a recomendação é divisivo, eu aviso, mas aqui não é necessário. Se você curte platformers 3D, especialmente os bem feitos, Kao The Kangaroo PRECISA estar na sua biblioteca. É um jogo bonito, bem feito e redondinho, com um preço até que bacana pro conteúdo que ele oferece.

Kao The Kangaroo está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.

Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela Tate Multimedia.