Last Beat Enhanced | Salvando um Beat’ Em Up mediano

Last Beat Enhanced | Salvando um Beat’ Em Up mediano

28/09/2022 0 Por Geovane Sancini

Ah, o financiamento coletivo… A capacidade de criar um conceito, apresentar ele a completos estranhos na Internet e pedir dinheiro para transformar esse conceito em um produto finalizado. Eu mesmo já contribuí em algumas campanhas do tipo, como a do jogo “A Lenda do Herói” e do “99 Vidas: O Jogo”. O que posso dizer é que nessas duas campanhas, eu de fato RECEBI os jogos citados e até mesmo tive a oportunidade de dar feedback de versões beta (e só não fiz porque sou preguiçoso pra caralho). Mas o fato é que nem sempre, temos o final feliz de jogos sendo entregues.

Podemos citar por exemplo, um projeto que contava com o aval E NOME do Astrofísico Neil deGrasse Tyson arrecadou mais de 300 mil dólares. Ou o projeto de Zoe Quinn (quanto menos falarmos da pessoa Zoe Quinn, melhor), que arrecadou 85 mil dólares e a última atualização da página do Kickstarter tem mais de quatro anos. Nessa foto aqui, vocês veem a modelo segurando edições de colecionador de Space Odyssey: The Vídeo Game (anteriormente chamado de Neil deGrasse Tyson’s Space Odyssey) e Kickstarted in the Butt: A Chuck Tingle Digital Adventure. Exatamente, NADA foi entregue, nem uma demo, nem um beta, nem nada. E a gente aqui reclamando que Mighty Number 9 é meh.

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Mas por quê estamos falando de projetos não entregues? Bem, a parada é que não apenas a questão de não entregues é relevante pro texto de hoje, mas também os valores. Porque enquanto que gente com nome e influencia pede quantias consideráveis de dinheiro e não entregam nada, desenvolvedores pequenos se viram com quantias muito menores e de fato entregam os jogos.

O desenvolvedor independente italiano Oscar Celestini precisou de cerca de 600 euros para entregar o jogo de hoje, Last Beat… E a campanha principal nem era pro jogo em si, mas para a produção de cópias físicas da versão original de PC, com pelo menos uma das metas estendidas sendo usada para adicionar um modo extra ao jogo. No fim, cerca de 1300 euros foram arrecadados e o jogo saiu no fim de 2020, sendo vendido apenas na loja do itch.io do criador.

E em 2022, com uma parceria com a 7Raven Studios, uma versão melhorada de Last Beat chegou aos consoles domésticos em setembro. Intitulada Last Beat Enhanced, será que ela vale a pena o seu tempo, numa época onde estamos cada vez mais sem tempo pra qualquer coisa?

Confira na nossa análise.

Reprodução: Oscar Celestini, 7 Raven Studios

Dragão Duplo das Ruas da Fúria na Luta Final

A cidade de Retrotown foi tomada pela terrível gangue Mad Stroke, e eles estão espalhando o terror pelo local com coisas inimagináveis por seres humanos decentes. Doces de crianças são roubados, santinhos de deputados são distribuídos, Otário Coins de jogos mobile estão sendo vendidas a preços astronômicos e a EA faz um acordo com a Konami para distribuir uma versão Pachinko da série FIFA com o Ultimate Team. É a pior das timelines.

Indignados com a violência eletrônica feita pelos facínoras, afinal de contas, uma coisa é você assaltar as pessoas e usar de violência pra ter o que se quer, mas um Pachinko de Fifa é IMPERDOÁVEL, enfim, indignados com isso tudo aí, um grupo de jovens que não tinha mais o que fazer, decide espalhar um pouco de militância de internet pela cidade. E quando digo militância de internet, me refiro a violência mesmo. Afinal de contas, estamos em um beat’em up e em Beat’ Em Up’s as coisas se resolvem na base do punho. Ou chute. Ou qualquer outra coisa.

Sim, eu estendi um pouco o parágrafo pra falar da história, mas você queria o quê? É um beat’em up, e usualmente histórias de Beat’ Em Up’s são direto ao ponto, sem enrolação. Enfim, agradeça minha mente por ter conseguido tirar essas piadas do cu pra seu entretenimento. Resumindo: Gangue domina a cidade, pessoas enchem a gangue de porrada, vimos isso milhões de vezes.

Reprodução: Oscar Celestini, 7 Raven Studios

Melhorias de um lado, grind do outro

Uma das coisas que se estranhava na versão original de PC do jogo, era o fato de que… Não se podia pular. Sim, eu sei, decisão esquisita de se tomar num beat’em up, mas agora aqui podemos pular, yay. Enfim, começando, nós temos um total de cinco personagens jogáveis, John e Noa sendo jogáveis de cara, Din sendo desbloqueado com o progresso da história. Já Ares e Zari são desbloqueados com o dinheiro conseguido nas fases. O dinheiro é adquirido nas fases, batendo nos inimigos e serve pra desbloquear os personagens e comprar power-up’s antes das fases.

Os personagens principais (John, Noa e Din) se dividem nos clássicos tropes de beat’em up. John é o balanceado, Noa é mais fraca, mas mais veloz (ideal pra grindar dinheiro, fica a dica) e Din é o típico grappler/tanque, ou seja, lento, mas forte. Cada um desses personagens tem movimentos diferentes e é divertido ver as diferenças entre eles. Uma pena que o mesmo não pode ser dito sobre Ares e Zari, que são apenas pallet swaps de John e Noa, mas mais fortes que os originais.

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A jogabilidade em si funciona na maior parte do tempo, mas a IA do jogo não é das mais inteligentes, com o jogo podendo ser terminado com certa facilidade, se você explorar a falha da IA, com diversos stunlocks que até me lembraram do famoso truque e stunlock do primeiro final fight, mas muito mais fácil de se executar. Em termos de duração do jogo, ele não se estende desnecessariamente como alguns jogos (Sengoku 3, estou olhando pra você), mas não chega a ser uma experiência ultra curta como alguns jogos do passado.

Um dos defeitos mais agravantes do jogo, é a questão de cancelamento de golpes… Ela não existe aqui. Você sabe, quando você tá rodeado de inimigos, ou no meio de um combo ou sendo espancado por inimigos, usualmente é aí que você usa o especial. Só que aqui, não dá. Você precisa esperar a animação do último golpe acabar pra poder soltar o especial, o que meio que é contra produtivo.

O mesmo vale pro sistema de parry do jogo, que é subutilizado por estar meio mal mapeado.

Reprodução: Oscar Celestini, 7 Raven Studios

Audiovisual competente… Quase sempre.

Uma dica que vou dar de cara. Nas opções, diminua o volume dos efeitos sonoros. Acredite em mim, vai atrapalhar menos a ouvir as músicas de Gianluca Pappalardo, que são boas e acrescentam em muito ao clima do jogo, com chiptunes pra cima que não vão decepcionar. Os efeitos sonoros são o que se espera de jogos na pegada 8 bits, com os efeitos que estamos acostumados.

Graficamente, o jogo é bem bonito. Ainda que não sejam sprites grandes como estamos acostumados em certos beat’em up’s modernos, eles são bem feitos e animados. E os cenários são variados e passam bem o clima de cidade de beat’em up que vamos limpar. Considerando que com a exceção das músicas, tudo em Last Beat é trabalho de uma pessoa só, é um bom trabalho na parte gráfica.

Reprodução: Oscar Celestini, 7 Raven Studios

Recomendado… Numa promoção.

O Last Beat original é vendido por 5 dólares no Itch.io, enquanto que a versão Enhanced sai a 10 dólares. Se ela vale isso tudo?

Não, honestamente. Last Beat Enhanced passa longe de ser um jogo ruim, de fato é um jogo bom. Só não está ao nível de outros beat’em up’s disponíveis nessa faixa de preço. Numa promoção? Com certeza.

É um jogo competente, apesar da platina/1000 G relativamente fácil e com os personagens diferentes, e modos extras, tem um fator replay relativamente bom. O jogo está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series.

Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela 7Raven Studios.