G-Darius (e sua versão em HD) | Retro Análise do Sancini #3

G-Darius (e sua versão em HD) | Retro Análise do Sancini #3

12/06/2022 0 Por Geovane Sancini

Ah, os anos 80… Eles foram bastante influentes na indústria dos jogos. Muitas coisas que são comuns hoje, se iniciaram lá, como a série Mario Bros, ou Ninja Gaiden… Ou a Activision tomando decisões imbecis e pagando o preço como carma…

“Como assim, Sancini?” Meus dezessete leitores se perguntam. Calma que vou lhes responder, paisanos. Veja bem, lá em mil novecentos e guaraná bolinha, a Activision (numa era pré Bobby Kotick), fez um acordo de distribuição (nos EUA) dos jogos da desenvolvedora britânica System-3, só que eles se recusaram a distribuir o jogo International Karate, chegando a dizer que basicamente, o jogo não passava de “porcaria britânica”, sendo que o jogo tinha vendido bem lá na terra da Rainha.

Eis então que a Epyx (da série “Games”, manja, do Califórnia Games, Summer Games, Winter Games, etc) adquire os direitos pra distribuir International Karate nos EUA, para Commodore 64… E o jogo foi um sucesso nos EUA, vendendo 1 milhão e meio de cópias.

Enfim, a mania de tomar decisões erradas continua em voga na Activision, vide as micro transações ultra agressivas de Diablo Immortal. Mas não estamos aqui para falar sobre a Activision. Não mais do que essa historinha dos anos 80.

Uma outra coisa que surgiu nos anos 80, foram três séries de shooters horizontais que se tornaram icônicas, cada um com suas características únicas, a Konami tinha Gradius, que trazia toda a questão dos orbes de energia intitulados Options, e seu sistema único de Power Up’s que foi levado a outros shooters da empresa, como Life Force e Parodius. A Irem tinha o R-Type, que como notável chamariz a habilidade de dar um tiro carregado, tal qual Mega Man faria alguns anos depois no quarto jogo (Curiosamente, tanto R-Type quanto Mega Man fazem 35 anos em 2022). E a Taito tinha nada mais nada menos que Darius. E a primeira coisa que você via quando chegava no fliperama, era a cabine ENORME.

Reprodução: Intrernet

Sim, a cabine utilizava três monitores juntos e espelhados pro jogo, dando uma área de visão maior pro jogador. Esse efeito ainda impressiona, mesmo 36 anos depois de seu lançamento.

Recomendo jogar a versão de arcade numa smart TV de mais de 40 polegadas, pra compensar o zoom out do emulador. Mas não era apenas com o tamanho da cabine que o jogo se destacava, o sistema de rotas do jogo permitia o jogador a encarar as 28 fases do jogo da maneira que desejar, sendo necessário apenas sete para terminar o jogo e ver um de seus múltiplos finais. E os bosses do jogo eram memoráveis, criados pelo pessoal do estúdio Tatsunoko, mas também havia um contra.

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O jogo era difícil feito a peste, com mesmo inimigos mais bucha levando vários tiros pra morrer e o level design não era muito criativo. Mas as coisas foram ao menos rebalanceadas na Darius Extra Version, que deixou as coisas um pouco menos difíceis. Apesar dos contras, para um shooter de 1986, Darius é bem superior a outros shooters da mesma época. Outra coisa que Darius se destaca, é a trilha sonora, cortesia da Zuntata, banda residente da Taito.

A série continuaria com outros cinco jogos, Darius II, que por alguma razão a Taito rebatizou de Sagaia fora do Japão, que existia em duas variantes, uma cabine com três monitores (mais rara) e uma mais comum com dois monitores. Darius II melhorou muito a fórmula do primeiro jogo, e ganhou um bocado de portes, incluindo dois competentes portes pra Mega Drive e Master System, desenvolvidos pela Natsume, e uma versão inusitada para Game Boy, que não é um porte, mas se chama Sagaia até mesmo no Japão e utiliza-se de elementos da série e possui ótimos arranjos para as musicas da série.

Darius Twin e Darius Force (Super Nova no ocidente) são jogos quase a parte porque não vieram dos arcades, mas são exclusivos do SNES (mas estão disponíveis na Darius Cozmic Collection: Console), e apesar de não serem ruins, não são tão marcantes quanto Darius ou Darius II pela falta do gimmick da série, no caso, os multi monitores.

O quinto jogo da série, terceiro de arcade, viria a sair em 1996, e é um dos mais celebrados da série, considerado por muitos o melhor, Darius Gaiden. Apesar de não ser multi monitor, é um jogo mais vibrante, e competente.

E temos é claro, o jogo da terceira Retro Análise do Sancini, a mudança de gráficos da série de 2D pra 3D e eu não tenho mais linhas pra essa introdução, então vamos lá para G-Darius, sem mais delongas.

Reprodução: Taito, M2, Inin Games

O início da luta contra os peixes voadores de metal

G-Darius se passa eras antes do primeiro jogo da série. O pacífico Reino de Amnelia e o agressivo Império Thiima estão em um conflito e as coisas não estão indo bem para Amnelia, já que Thiima utilizava enormes naves de guerra vivas que lembravam muito peixes voadores de metal e coisas do tipo. Porém, numa ideia de gênio, o Rei de Amnelia resolve roubar e fazer engenharia reversa da tecnologia Beta Beam das naves-peixes do inimigo e assim criou duas naves intituladas Genesis Silver Hawk, uma em vermelho e outra em azul.

Essas naves seriam pilotadas por dois jovens pilotos da Força Aérea Amneliana, Sameluck Raida (controlado pelo jogador 1) e Lutia Feen (controlada pelo jogador 2), e eles são talvez a última esperança de Amnelia.

O jogo obviamente por ser de fliperama, não possui cinemáticas explicando isso em detalhes, só temos uma vaga ideia pelo prólogo, que é um pouco estendido na versão de console, mas não espere nada no nível de Gleylancer, e claro, tudo o que interessa num shooter é fazer BOOM nas coisas. Logo, como é o pew pew boom de G-Darius?

Reprodução: Taito, M2, Inin Games

Cinco jogos em um… Ou cinco versões de um mesmo jogo, como queira.

Você obviamente deve ter notado pelas screenshots, que a versão que está sendo analisada aqui é a HD. E é mais ou menos isso, mas vamos explicar por partes. A versão HD possui a versão original do jogo de Arcade, uma remasterização em HD dela, feita pela M2, e posteriormente em uma atualização foram adicionadas a G-Darius Ver. 2, uma revisão que ficou somente no arcade, com rebalanceamento, timer nos bosses, modo iniciante e auto-fire, em sua versão original e a G-Darius Ver. 2 HD, e também traz a versão de PS1 de G-Darius, lançada em 1998 e baseada na Ver. 2 em alguns aspectos, mas com cutscenes e intro em FMV, ao invés das cenas com os gráficos in-game do arcade.

A versão do Steam foi ainda mais um passo além, e inclui Darius Exibition, exclusivo de lá, que traz uma reimaginação de G-Darius, se o jogo fosse dual monitor, com algumas Boss Battles nesse modo em fullscreen. Só esperemos que um dia Darius Exibition chegue aos consoles como updates futuro.

Mas, chega de dados técnicos e embromação, e vamos ao que interessa? Como funciona G-Darius/G-Darius HD?

Pois bem, O jogo é um shooter de progressão horizontal, pura e simplesmente. São quinze fases no total, sendo que apenas cinco são necessárias para terminar o jogo, que assim como seus antecessores, possui o sistema de rotas, com finais diferentes, dependendo da fase onde se termina o jogo. Cada fase possui uma sub-rota, que vai definir o local e a aparência do chefe dela, além dos padrões de ataque, garantindo um fator replay imenso.

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Você obviamente possui um botão de tiro e um botão para utilizar a Capture Ball, que substitui a Black Hole Bomb de Gaiden. A Capture Ball permite capturar inimigos comuns e subchefes enfraquecidos o suficiente e torná-los seus aliados por algum tempo (até você morrer, eles tomarem dano o suficiente pra explodir, você utilizá-los como bomba, ou fazer um Beta Beam, concentrando o botão de tiro.

A mecânica do Beta Beam e seu domínio são essenciais para as batalhas contra chefes. Os chefes possuem a mesma técnica e em determinados momentos da batalha, eles vão disparar. Você pode atirar um Beta Beam contra o raio do chefe, e sua habilidade de mashar o botão de tiro (ou usar o auto-fire se estiver na ver. 2) vai fortalecer seu Beta Beam a ponto de suplantar o do chefe e causar um dano massivo.

Inclusive uma das vantagens das versões de G-Darius contidas na versão HD (com exceção da versão de PS1), é que nos lados da tela, dados como a quantidade de energia de chefes e subchefes vai estar lá disponível, assim como o tempo restante até que o chefe fuja.

Reprodução: Taito, M2, Inin Games

Como funcionam os Power-Up’s tio?

O jogo possui um sistema de power-up’s mais parecido com o primeiro do que com o segundo jogo, se assim podemos sumarizar. Alguns inimigos, ao invés da coloração normal dele, serão de cores como Azul, Vermelho, Verde ou Roxo. Matá-los, fará com que as esferas de Power-up sejam liberadas, a vermelha aumenta o poder de fogo, a azul aumenta o número de escudos, dando proteção contra 3 disparos comuns por barra, a roxa dá uma capture ball extra e a verde dá uma bomba extra que é disparada de sua nave enquanto você dá os disparos normais.

Se você conseguir pegar uma determinada quantia de Power-Ups sem morrer (boa sorte, chefia), azul, vermelho ou verde, tal recurso da nave subirá de nível (tiro e bomba se tornarão mais fortes), mas o escudo não te protege de contato de outras naves com a Silver Hawk, então tenha cuidado, mesmo com o escudo mais forte, um totozinho de outra nave e já era.

Como G-Darius foi um jogo originalmente projetado para os arcades, acredite, você vai morrer. Muito. E essas mortes custam, se você não tiver subido o nível da sua arma/bomba/escudo, ao morrer, ela volta ao ponto que estava no começo, se ela estava num nível mais alto, ela volta ao estágio inicial desse nível, ao menos no modo normal, no Beginner (introduzido no G-Darius ver. 2, você perde menos progresso do seu Power Up).

Independente da dificuldade escolhida, G-Darius é difícil. Eu tive dificuldades pra chegar no final da versão de PS1, jogando no Super Easy, e só consegui terminar a versão de Arcade por conta dos continues infinitos.

Como a versão de PS1 é baseada na ver. 2 de G-Darius, ela também possui o modo Beginner, e além disso, temos um Vs. Boss, que é basicamente um boss rush contra os 30 chefes do jogo (as duas variantes de cada fase)

Reprodução: Taito, M2, Inin Games

Remasterização NO CAPRICHO e trilha fantástica

Primeiramente, se você espera uma trilha com músicas no estilo animado como nos dois primeiros jogos, esqueça. A trilha mistura o tom amedrontador de uma ameaça espacial com arranjos mais na pegada industrial, instrumentos sintetizados e sons ambientes. Mas nem por isso deixam de ser músicas excelentes, é de Zuntata que estamos falando, oras bolas. Então não espere por nada menos que excelência, como é de costume.

Muitos shooters bidimensionais acabam ficando sem graça quando passam para a terceira dimensão, porque não sabem o que fazer em relação a cenários e tudo mais, mas G-Darius acertou na mosca. Os cenários do jogo são cheios de vida, e as variações que temos devido as sub-rota das fases acrescentam tanto ao conjunto do jogo, quanto ao fator replay.

A temática dos cenários também é variada, mas é uma pena que você não vai ter tanto tempo pra apreciar o trabalho da Taito, porque CARALHO, UMA BALA ME EXPLODIU DE NOVO e o jogo não vai pegar leve com você.

E a remasterização feita pela M2 é a definição perfeita de remaster, pegar os gráficos, e deixar eles visíveis em alta resolução. É difícil explicar, já que a área de jogo não está em 16:9 (a não ser que você seja um cretino desses que estica jogos 4:3 pra 16:9, saiba que o inferno é pouco pra você), mas os modelos poligonais, cenários e chefes continuam como deveriam estar em termos de design e proporção, mas estão claramente mais bonitos.

É basicamente como se o jogo por exemplo estivesse rodando num Dreamcast, por assim dizer, manja a diferença gráfica de Tony Hawk do PS1 pro Dreamcast? O jogo continua esteticamente o mesmo, nada mudou, mas tudo parece mais bonito.

Reprodução: Taito, M2, Inin Games

A experiência definitiva de G-Darius

G-Darius pode não ter superado seu antecessor Gaiden, mas certamente é um dos melhores jogos da série, mesmo sendo difícil feito o inferno. Prepare-se para atirar, morrer, repetir isso até melhorar e ficar decente o suficiente. Ou não, já que o botãozinho do crédito faz plim e você vai continuar jogando.

A versão HD tem os recursos modernos que esperamos (incluindo filtros pra versão de PS1, imagem de fundo pra simular uma máquina de arcade, save state, essas pataquadas) e a emulação está no ponto certo, com a versão de PS1.

Ponto negativo é que a versão de PS1 é a japonesa, seria legal se eles separassem essa atualização pela região. A trilha é fantástica e o jogo é bonito, nada mais a declarar.

G-Darius HD está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC.


Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela ININ Games.