Arcade Spirits: The New Challengers | Uma ficha por um sonho

Arcade Spirits: The New Challengers | Uma ficha por um sonho

30/05/2022 0 Por Geovane Sancini

Existem certas tradições no mundo dos videogames que são difíceis de serem quebradas, uma delas é um Call of Duty novo a todo ano, outra são as viúvas de The King of Fighters 98/2002 que a cada lançamento resmungam que o jogo favorito deles ainda é o melhor, outra são nintendistas passando pano pras políticas da empresa e mais recentemente, a Square-Enix fazendo trapalhadas atrás de trapalhadas…

Vender Tomb Raider, Deus Ex e mais um bocado de ip por troco de bala pra investir no cripto mercado, quando a bolha dos NFT’s tá estourando? Pfffft…. HAHAHAHAHAHAHAHAHA, véi, a Square virou o meme do cara que vende a casa pra comprar jpeg de mamaco. (E sim, considerando o valor e vendas dessas franquias, 300 milhões dá pra ser considerado troco de bala). Sei que isso não tenha ver com o texto de hoje, mas aguenta, porque eu tinha que encaixar esse assunto EM ALGUM LUGAR.

E uma outra tradição no mundo dos videogames, é eu começar uma franquia (estabelecida ou não) pelo seu segundo jogo, e o jogo de hoje NÃO É DIFERENTE. O Arcade Spirits original foi uma visual novel lançada em 2019, desenvolvida pela Fiction Factory Games e publicada pela PQube no Steam, e que em 2020 chegaria aos consoles. E agora, no fim de maio de 2022, a continuação, Arcade Spirits: The New Challengers está disponível para todas as plataformas. Será que ela vale o seu tempo? Você só vai saber se ler a nossa análise a seguir.

Reprodução: Fiction Factory Games, PQube, Ratalaika Games

Em busca de um sonho, mas… Que sonho é esse?

O jogo se passa muito tempo depois do Arcade Spirits original, na mesma realidade alternativa, onde o Crash da Industria Norte Americana de videogames de 1983 nunca aconteceu e os arcades continuaram populares, passando a dividir espaço com consoles e portáteis. O Arcade Spirits original se ambientava em 199x, enquanto que The New Challengers se passa em 20xx. Mas apesar de tudo, aviso de antemão que não é necessário ter jogado o original para entender os eventos da continuação, funcionando como um jogo solo.

Enfim, você está no papel de Seeker (calma que explico mais adiante), uma pessoa que passa seu tempo livre jogando o popular Fist of Discomfort 2, um híbrido de jogo de luta e moba que costuma ser jogado em duplas. Mas ao ver que seu amigo/rival Hunter conseguira entrar pra uma equipe profissional, você acaba voltando ao seu velho sonho de ser um jogador profissional e vencer um torneio, porque FoD2 é a única coisa na qual você tem algum talento.

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Com a ajuda de um app/Inteligência Artificial pirata chamada Iris, você acaba indo parar na Good Clean Fun, um híbrido de pizzaria/lavanderia/fliperama e se juntando a “equipe” de lá. Só que a tal equipe é basicamente um grupo de amigos que joga por diversão e não tem aquela ânsia profissional que você tem. Ou talvez eles até tenham, mas cabe a você despertar essa paixão pela competição.

Você pode criar laços de amizade com seus novos companheiros de equipe… Ou até mesmo algo mais, tudo vai depender apenas das suas escolhas. Ah sim, você também terá que lidar com outras coisas, como equipes rivais tóxicas, patrocínio, entrevista e até mesmo uma conspiração baseada numa antiga lenda urbana de um certo jogo de Arcade que nunca existiu…

Ainda que a primeira vista, Arcade Spirits: The New Challengers seja visto como “despertar o espírito competitivo na sua equipe”, vendo a novel como um todo, é mais uma jornada da descoberta de si mesmo, que parece clichê, mas é verdade no caso de AS, por conta do convívio de seu personagem com os seus companheiros de equipe.

Reprodução: Fiction Factory Games, PQube, Ratalaika Games

Visual Novel, sim, mas com uma boa dose de customização na maneira de jogar

Você deve ter lido acima que me referi ao protagonista como Seeker, mas se você olhar para as screenshots, verá o nome NiTRO (com essa grafia). E bem, o ponto é que você pode customizar não apenas o nome de seu personagem, mas como sua aparência, pronomes e o nickname (que é o que vai ser usado nos diálogos). Isso pode parecer uma coisa bastante básica, se olharmos do ponto de vista dos jogos AAA com alto teor de customização, mas como alguém que já programou na Ren’py, esse nível de customização requer um trabalho hercúleo, com todas as variações, para nada ficar fora do lugar.

Essa parte de customização não fica apenas na sua aparência ou na de seu rival, mas mesmo os aspectos de visual novel podem ser levemente customizados no início, graças a sua IA, Iris, você pode decidir se seus diálogos terão ícones ligados ao seu tipo de personalidade ou não. O jogo usa a desculpa da IA pra ter a famosa métrica de barrinhas sem vergonha que temos em algumas visual novels, mas não apenas essas barrinhas de rotas, mas barras pra medir sua personalidade, que vai influenciar diálogos posteriores.

É meio difícil de explicar com palavras, mas na prática, no jogo, é como uma visual novel normal, só que você tem a chance de ver ou não que respostas dão pontos na sua parte favorita de personalidade.

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Você também tem a chance de definir se o que você quer com os personagens é meramente amizade ou romance, tendo como possíveis parceiros de romance, seus companheiros de equipe e seu rival, tendo até mesmo a chance de estar em um relacionamento com mais de uma pessoa (e vai ser meio óbvio perceber quem são as pessoas).

Caso você tenha o primeiro jogo, é possível importar o save dele para ver as suas decisões fazendo efeito na continuação, e algumas interações mudando. Como eu disse, não é obrigatório, a narrativa funciona sozinha, mas é bom ver minhas decisões tendo impacto real.

A narrativa de The New Challengers, na maior parte do tempo é bem sólida, com os personagens tendo suas qualidades e defeitos, apesar de alguns serem exagerados pra efeito cômico (sim, Langsley, falo de você), nenhum deles é exatamente um token de “temos que x pra isso”.

O próprio epílogo do jogo diz que a diversidade não deve ser usada pra ganhar biscoitos na política, mas para dar uma voz a todos. Em alguns momentos a narrativa dá uma escorregadinha na minha opinião, mas são poucos esses momentos.

A visual novel mostra uma competição de eSports, e pra isso temos um mini-game representando as competições de Fist of Discomfort 2, que funciona obviamente com escolhas, num sistema de pedra-papel-tesoura e um bocado de RNG envolvido (nada que save/load não ajudem).

É divertido na primeira vez que você faz o mini-game, mas do segundo em diante eu pulei. As três primeiras partidas do mini-game influenciam um pouco em algumas falas no começo da segunda metade do jogo e no desbloqueio de artworks (e também de Achievements/Troféus).

Em termos de duração, para uma única rota em si, o jogo dura em torno de 7 a 10 horas, eu talvez tenha estendido um pouco o tempo porque as três primeiras horas do jogo eu fiz em stream e eu estava fazendo tradução do diálogo e vozes, o que gasta mais tempo do que simplesmente ir jogando. Mas é um tempo satisfatório, se quer saber minha opinião.

Reprodução: Fiction Factory Games, PQube, Ratalaika Games

Futuro Retro Neon Vaporwave

Vamos falar primariamente do ponto fraco do jogo na parte gráfica que é… Não temos tantas CG’s assim no jogo, o que na minha opinião é meio que um ponto fraco, mas considerando como a visual novel é num geral, dá pra compreender. Temos cerca de dez (dez? Deixa eu abrir aqui pra confirmar esse numero… Sim, são dez.) possíveis sprites pro nosso personagem e pro rival, e contamos nisso variações de cabelo, óculos, chapéus e some-se a isso as cores, seria um inferno produzir CG’s pra isso tudo. As poucas CG’s que tem, são dedicadas a alguns personagens, a finais e tudo mais.

Com o elefante fora do caminho, temos bastante a falar da parte audiovisual de Arcade Spirits: The New Challengers, e olha. Foi tudo feito com muito esmero pra manter a estética retro futurista na parte de alguns cenários, menus. Não é a minha praia, todo esse neon vaporwave ou sei lá que os jovens curte, mas cada um com cada qual. Ainda assim, é impressionante o quanto a estética bem feita ajuda a apresentação do produto. Se eu não soubesse dos menus e tudo mais, não imaginaria que fosse um jogo feito na Ren’py.

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Os sprites são bem desenhados, apesar de não terem tantas variantes assim, e o sprite do seu protagonista não fica tão deslocado, apesar de ser customizado. E os cenários são muito bem feitos, com detalhes e referências que talvez só um fã de jogos retro pensaria em colocar (ao invés daquela meia dúzia de fliperamas americanos manjados). Tá certo que os jogos e máquinas que aparecem nos cenários são fictícios, paródias de reais (tipo The King of Brawlers 97, paródia óbvia), mas é nítido o carinho dos criadores pelos videogames antigos.

A trilha sonora segue a estética vaporwave, com composições nesse estilo, que mais uma vez, não são a minha praia, mas são excelentes composições, ainda assim. E o que realmente se destaca é o elenco de dublagem, que fez um ótimo trabalho no jogo. Cada um deles passou o tom que se espera do personagem, ainda que nem todas as falas tenham dublagem.

Reprodução: Fiction Factory Games, PQube, Ratalaika Games

Pode se arriscar sem precisar ter jogado a novel anterior

A gente aqui no Arquivos do Woo não dá notas pros jogos, mas se eu desse, Arcade Spirits: The New Challengers como visual novel é um sólido 9. Não precisa ter conhecimento do Arcade Spirits original para aproveitar essa continuação, então novatos podem se sentir acolhidos.

Quem jogou o anterior, vai ter um motivo para jogar, reencontrando alguns velhos conhecidos, anos depois. E quem conhecer esse, certamente vai querer ir atrás do original, por quê não?

Arcade Spirits: The New Challengers está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series X|S.


Essa análise foi feita com uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela PQube.