Luigi’s Mansion 3 | Os 13 Andares do Terror

Luigi’s Mansion 3 | Os 13 Andares do Terror

16/01/2020 0 Por Tony Santos

A origem da série

Luigi’s Mansion 3 é a mais recente iteração da série que começou lá em 2001 no Game Cube. Na ocasião, muito se questionou se lançar um console da Nintendo com um jogo protagonizado pelo irmão secundário da principal série da casa seria uma boa empreitada, e no fim das contas tudo se provou certo. O jogo original, feito pela Nintendo EAD — único da série feito no Japão — foi um enorme sucesso, trazendo o medroso bigodudo magrelo a um ambiente totalmente diferente das séries anteriores. Ficaram de fora as tartarugas e os goombas e entraram os fantasmas.

Totalmente diferente dos Boos da série original (que ainda estão presentes), as aparições em Luigi’s Mansion possuem brilho semelhante à luzes de neon e são semi-transparentes, com olhos amarelados, e em sua maioria possuem características marcantes, como se usassem a roupa que morreram. Luigi por sua vez, deve caçá-los com seu Poltergust, uma mochila-aspirador que — assim como todo o resto do jogo — é claramente inspirada em Os Caça-Fantasmas (1984).

Continuações ocidentais

Apesar do sucesso do jogo original, a série ficou dormente por 12 anos, não recebendo versões novas no Wii e Nintendo DS, até que em 2013, ficou a cargo da Next Level Games fazer a continuação do primeiro jogo, dessa vez no 3DS. Essa desenvolvedora já havia trabalhado com a Nintendo anteriormente, fazendo os ótimos Mario Strikers (2005), Mario Strikers Charged (2007) e o remake de Punch-Out!! para o Wii (2009). Mesmo que tenham se especializado em franquias esportivas, é notável o esmero e a qualidade de seus jogos, eles usam os personagens da Nintendo de maneira criativa e com uma aparência ligeiramente diferente do que estamos acostumados com jogos da empresa japonesa, e Luigi’s Mansion 2 (conhecido nas Américas como Dark Moon) não foi diferente. Com direção de arte semelhante ao original, o segundo jogo colocava Luigi em uma série de mansões para caçar mais fantasmas, diferentemente do jogo original, onde a exploração se dava em apenas um local, quase como um Resident Evil clássico.

O jogo foi muito bem recebido, porém houveram críticas quanto aos controles, já que o 3DS não possuía originalmente um segundo analógico. O sistema de missões também foi mal recebido, mas provavelmente foi uma escolha feita devido ao jogo ser portátil, onde os jogadores normalmente fazem sessões de gameplay mais curtas.

Com o sucesso do segundo jogo e a confiança total da Nintendo, era natural que uma sequência mais robusta para seu próximo console chegasse eventualmente, e em 2019 tivemos Luigi’s Mansion 3

Maravilhosamente assustador

Luigi’s Mansion 3 é um jogo lindo. Precisamos tirar logo isso da frente pois é uma tecla que seria muito batida ao longo desse texto. Cada detalhe visual, desde os cenários até a animação dos personagens lembra muito um mix de filmes da Pixar Studios com Dreamworks. Não inventaram muito no modelo dos personagens, porém as animações são bem mais detalhadas que em jogos normais da série Mario. O hotel e seus 13 andares onde o jogo se passa é incrível.

Cada andar, cada sala e cada cantinho possui imenso apreço pelo visual, e é possível interagir com absolutamente tudo: mesas, papéis, gavetas, armários, estantes, camas, tomadas, canaletas de esgoto… todas as essas coisas podem ser tocadas, sugadas, assopradas ou pisadas, reagindo através da física do jogo. Papéis ficam espalhados, elementos do cenário ficam quicando pela tela e rolando no chão, dando um ar de realismo que o segundo jogo não possuía. Aqui voltamos à forma original do primeiro jogo, com Luigi tendo que explorar um único local, com a vantagem de que cada andar possui uma temática diferente.

Por se tratar de um hotel, os desenvolvedores encontraram a perfeita oportunidade pra criar cenários que não se limitariam a uma casa mal-assombrada: temos academia, pirâmides, salões de festa, uma casa maluca de mágicos e outros ambientes que não fariam sentido em um jogo realista mas que aqui, só adicionam variedade à série.

Arsenal variado

Luigi caça os fantasmas com seu aspirador de pó superpotente como sempre, mas agora vem acompanhado de outras ferramentas para auxiliar na exploração. De volta do segundo jogo, temos a lanterna, onde um feixe de luz forte pode ser usado para paralisar os fantasmas antes de sugá-los. De novidade temos a luz negra, usada para descobrir objetos ocultos no cenário e o desentupidor, que serve para puxar objetos e arremessá-los, além de ser útil em algumas batalhas contra inimigos específicos.

Apesar de toda essa parafernália nova, o destaque fica para o Gooigi, uma versão gosmenta do protagonista que é usada para resolver puzzles em dupla. Foi a desculpa que a Next Level Games usou para adicionar multiplayer na campanha principal, mas que também funciona muito bem no single player. Ao toque do R3, você troca o controle do personagem para a versão melequenta do Luigi, que possui a vantagem de poder passar por ralos e não ser atingido por projéteis. Infelizmente, sua energia é mais curta e ele não pode entrar em contato com a água. Com isso, já se pode imaginar a quantidade de puzzles que utilizam desses prós e contras não é mesmo? E não são poucos.

Jogabilidade estranha

Apesar de toda qualidade do jogo, um enorme ponto negativo são exatamente os controles. Mesmo com um segundo analógico à disposição, a NLG não conseguiu criar um esquema de controle semelhante ao usado no primeiro jogo. Controlar Luigi e mirar o aspirador ao mesmo tempo deveria ser uma tarefa simples, mas passa bem longe disso. Existem dois modos de mirar: em um deles o analógico direito só gira na horizontal, enquanto os movimentos verticais são feitos pelo giroscópio. Já no outro modo, todo o movimento fica a cargo do analógico.

Por incrível que pareça, nenhuma dessas opções é ideal, e não ajuda que o personagem não gire imediatamente para a direção apontada pelo jogador, sendo necessário girar completamente o boneco até que a mira esteja no local desejado. Isso incomoda de leve durante todo o jogo, mas alguns chefes exigem uma precisão e destreza que os controles não permitem e fica claro que a maioria das suas mortes são causadas por essas falhas e não por falta de habilidade.

Outro detalhe é que alguns puzzles não são intuitivos e sua solução às vezes não é clara mesmo após ver um guia. Muitas vezes me peguei resolvendo problemas do jogo somente sugando todo o cenário, quase que numa caça do pixel certo que o jogo queria que eu interagisse. Faltam signos visuais que auxiliem o jogador. Não digo que deveria ser tudo jogado na cara, mas que fossem usadas técnicas de game design melhores, onde o jogo deixa as regras do problema claras e o jogador, munido dessas informações, resolve o quebra-cabeças. Isso falta, e muito, em Luigi’s Mansion 3. Somado a isso, o cenário bem detalhado não mescla muito com a câmera fixa, deixando algumas áreas confusas. Esse é um problema menor mas que seria facilmente solucionado com algumas leves mudanças de câmeras em determinados pontos.

Finalmente, o jogo possui diversas conquistas, mas nenhuma delas te recompensa de forma satisfatória, fazendo parecer que estão lá somente para esticar o conteúdo.

Concluindo

Luigi’s Mansion 3 é um jogo muito bom que faz jus ao legado deixado pela Nintendo e pela própria Next Level Games. Porém, há muito espaço para melhorias em uma futura continuação. Problemas de controle, câmera e a falta de premiação por completar 100% do que é proposto pelo jogo fazem com que ele esteja longe de ser um dos melhores jogos da série Mario.

Ainda assim, recomendo para todos que possuem um Switch, pois o esmero no visual e detalhe técnico são realmente impressionantes.