Distortions | E se eu dissesse que o seu próximo Shadow of the Colossus está em Distortions

14/02/2019 0 Por Diogo Batista



É difícil acreditar que o Brasil consegue produzir alguma coisa em meio a tanta falta de incentivo cultural e criativo, você sabe, afinal, desde pequenos somos alvejados por produções internacionais. Sempre os filmes americanos, sempre os animes japoneses, sempre as bandas internacionais. A culpa não é nossa, infelizmente, alguma coisa nos impede muitas vezes de lembrar que o brasileiro é muito engenhoso, e quando têm recursos para isso, podemos criar qualquer coisa. Por exemplo, o rádio, o Walkman, a máquina de escrever, e até o painel eletrônico para marcar quem entra e sai do campo de futebol.

E nos videogames, então, nossa, é mais comum que as propagandas de 0900 da década de 90. Essas propagandas acabaram, mas a falta de acreditar que os estúdios brasileiros conseguem criar jogos tão bons quanto os americanos e japoneses, isso ainda continua.


Peguemos como um dos exemplos mais básicos que aconteceu com a franquia Wonder Boy no Master System, originalmente é uma produção japonesa. De repente, nos anos 90, colocaram a Turma da Mônica no lugar dos personagens originais. Isso poderia ter acontecido com qualquer outro jogo, poderiam ter feito com Psycho Fox, era só trocar a raposa pela Mônica e o corvo pelo Sansão. No entanto, resolveram fazer essa substituição no Wonder Boy, e não é que isso ajudou a elevar as vendas do jogo no país? Tinha até propaganda na TV. Quem não queria jogar Mônica no Castelo do Dragão ou Turma da Mônica: O Resgate? Se não fosse por isso, seria apenas um jogo a mais. O marketing da Tectoy foi tão forte e certeiro que, para quem veio daquela época, não dá para pensar em Wonder Boy sem pensar também na Turma da Mônica.




E se eu dissesse que o seu próximo Shadow of the Colossus está em Distortions? Aí vai dizer, não, porque nada supera. Por isso, não tenha medo de conhecer as coisas, principalmente, não tenha medo de sair da zona de conforto. Deixe de lado qualquer sintoma de viralatismo, até porque isso é um pensamento do início do século XIX. Não poder dizer que gosta de algo porque foi feito no Brasil? Então, deveríamos sentir vergonha de comer arroz e feijão no almoço, sinta vergonha de comer brigadeiro em festa de aniversário. E de volta aos jogos, já ouvi criador brasileiro dizer que não gosta quando escrevem que o jogo foi produzido no Brasil – Por que sentir vergonha disso?




Mas eu acredito que tenham pessoas que ainda esperam que os estúdios brasileiros produzam algo a nível Triple A. E neste momento não precisamos esperar muito, a produção do estúdio Among Giants está aí como um Triple I – jogo indie de alto custo.


É possível enxergar muita coisa aqui, a começar com as cenas em vídeo, e no que diz respeito a personagem, conseguem alcançar o nível das modelagens da Quantic Dreams. O in-game mostra um visual do fim da geração PS2 com mecânicas da geração PS1 – encontre objetos, desvende puzzles, não dá pra chegar naquele ponto até desbloquear um novo poder, e a novidade fica por conta do violino e as partituras que ensinam novas músicas que darão mais vida aos cenários, além de ajudar a vencer hordas de inimigos e demais obstáculos pelo caminho. Use a memória para decorar sequências de poderes e usá-los nos momentos mais oportunos, vale também anotar no caderno para não se perder depois.




E como o jogo pune a pessoa do controle? Não tem game over ao morrer, a personagem volta para o último ponto. Isso acontecia muito na geração PS2/Xbox 360 e ainda acontece em vários jogos, mas podemos voltar a lembrança em Secret of Monkey Island, da LucasArts, que já naquele 1990 trazia um jogo onde não existia tela de game over.


Percebeu quantas passagens tivemos aqui? Diante do videogame, e desde o Atari, jogadores crescem com muitas referências externas. Se isso não fosse verdade, ninguém escreveria Blazing Chrome e Contra Hard Corps no mesmo texto.




E se tem algo que os estúdios brasileiros conseguem fazer de melhor é contar história. Aprendemos isso com nossos avós, e Monteiro Lobato. É incrível que na oportunidade de criar jogos, o brasileiro consegue dar a volta por cima ao criar jogos que conseguem conversar com quem está no controle, ao invés de pedir que apenas apertemos botões para chegar ao final. E pode ter certeza que tem muito estúdio internacional atentos para o que está sendo feito por aqui.




Quando possível, separe um tempo do console, liga o PC e procure por Distortions no Steam, e garanta uma produção reconhecida em 10 categorias, sendo 5 prêmios – Melhor Jogo, Melhor Tecnologia, Melhor Jogo Brasileiro e Escolha do Público no BIG Festival, Ideia Mais Original e Melhor Jogo da BGS10 (São Paulo/2017). Só fique atento com a configuração, o jogo é brasileiro mas não é humilde.


E encerro aqui com meu agradecimento ao Cyber Woo, por abrir esse espaço no Arquivos do Woo para compartilhar com vocês essa experiência com Distortions.


*O jogo Distortions foi analisado com uma chave digital fornecida pela Among Giants.


Distortions [PC]
Desenvolvedora: Among Giants
Publisher: Among Giants

Data de Lançamento: 02/03/2018


Essa analise feito por nosso amigo Marvox do blog Marvox Brasil.