O Perfuraneves | Impressões da Graphic Novel

O Perfuraneves | Impressões da Graphic Novel

07/10/2016 0 Por Diogo Batista

O Perfuraneves  me proporcionou  uma aventura única e com um desfecho de fazê-lo pular da cama com suas 280 e poucas páginas.

Só tenho a agradecer a Editora Aleph por trazer essa obra incrível ao Brasil, e com o devido respeito que a obra merece. O formato europeu e a qualidade do material estão belíssimo,  e você não vai ficar sem compreender o desenrolar, pois a graphic novel possui os três contos em um único volume.

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Estamos diante de uma daquelas graphic novel que você quer devorar de uma só vez, mas a medida que você avança na história, tu coloca o pé no freio e começa a desacelerar, passa a querer que não termine mais e as quase 300 páginas parecem poucas.

porquê você quer entender e conhecer mais desse mundo gélido criado por Jacques Lob, enquanto aprecia a arte incrível de Jean-Marc Rochette.

Curioso?

O PERFURANEVES

O Perfuraneves | Impressões da Graphic Novel
Pegue um casaco, cobertores e se prepare para visitar um mundo em que a era glacial destruiu quase todas as formas de vida e o que sobrou da humanidade  foi confinada em um único trem “O Perfuraneve e seus mil e um vagões“.

Como eu disse no inicio do texto, a graphic novel é composta por três contos em um único volume, então o primeiro é o “O Perfuraneve”, que é escrito por Jacques Lob, o verdadeiro responsável pela criação desse mundo.

Os autores Lob (e), Rochette e Legrand.

Nessa primeira parte descobrimos que o mundo foi acometido por uma catástrofe ambiental que desceu a temperatura do planeta, mantendo-se nos 94 Cº negativo. Nenhuma forma de vida sobreviveu a catástrofe, exceto pelas pessoas que se refugiaram dentro do Perfuraneve. O

trem, no caso, ele possui mil e um vagões e vem atravessando o mundo sem precisar de qualquer tipo de manutenção no motor, que alias gera energia perpetua por meio do próprio movimento.

PROLOFF, O FUNDISTA

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A história se passa 17 anos desde que a humanidade ficou confinada no trem, e os ânimos não andam nada bom por lá, pois o trem é dividido por classes. Na frente a elite com todo o tipo de luxo e espaço, enquanto no fundo os mais pobre vivem em condições sub-humanas e aglomerados.

É ai que surge Proloff.

Ele é pego fugindo do fundo, o que não é permitido de maneira alguma por motivos de que a galera do fundo havia se rebelado anos atrás, depois de muito maus tratos e briga por espaço no trem.

Os fundistas (pessoas que moram no fundo do trem) resolveram ocupar o resto do espaço dentro do Perfuraneves a força, pois queria os mesmos privilégios. Não deu nada certo e terminaram contidos e selados.

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Porém, por alguma razão, Proloff acaba sendo mantido em custódia ao invés de ser mandado imediatamente para o fundo. É então que surge, Adeline Belleau, uma influente moradora dos vagões do meio, que ao saber da captura de um fundista procura saber as razões pela qual o estão mantendo preso.

Devido a sua influencia ela consegue descobrir o paradeiro e até chega ao fundista, mas só consegue mesmo é ficar presa com ele.

Por alguma razão, Proloff e Adeline são “convidados” a conhecer o conselho do trem, que fica localizado próxima a cabeça. É, eu to chamando a frente de cabeça.

Diabos, tem mil e um vagões, dá um desconto.

É desse ponto em diante que a aventura realmente começa, pois o casal será escoltado até a ponta e para isso precisara passar por muitos vagões temáticos, e assim a medida que avança vagão por vagão eles descobrem um pouco da verdade oculta sobre o Perfuraneves.

NÃO HÁ HERÓIS

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Se vocês notaram, na imagem do cabeçalho Proloff está careca, enquanto na imagem que anexei depois ele está cabeludo e com barba.

No primeiro contato com o resto do vagão, os soldados raspam sua cabeça e sua barba por acharem que todos os fundistas possuem doenças e pragas. Isso deixa bem claro o quanto a classe social dominante despreza quem vive no fundo.

Gostei bastante da preocupação com o meio ambiente que é pregado durante toda a história. Durante o decorrer em uma conversa e outra você descobre que uma bomba estaria sendo desenvolvida e ela afetava o ambiente. Só que a merda foi para o ventilador de alguma maneira e o povo meio que ficou arrependidinho, talvez por não ter contido os testes enquanto ela estava em desenvolvimento.

Outro ponto que preciso ressaltar é que Proloff não é um herói. Eu achei Isso é genial, pois ele só quer chegar na frente simplesmente por não aguentar mais viver no fundo. Em nenhum momento você o verá tentando ser o herói estereotipado.

Proloff sequer tem um plano, o que mostra que ele é apenas um desesperado e que termina envolvido em algo muito maior do que simplesmente conseguir conforto e comida dentro do Perfuraneves.

A RELIGIÃO E A MORTE-BRANCA

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Saber mais sobre as condições do fundo é uma das coisas que prendeu a minha atenção.

Durante a leitura do Perfuraneves você nota que não há janelas e eles vivem amontoados, o que faz com que ficar sozinho seja um luxo que eles não podem se permitir. Bem, na realidade a vida é tão miserável no fundo que até mesmo o canibalismo ocorre com uma frequência absurda. Há também o fato de que ficar sozinho é um luxo impossível, bem, talvez não tão impossível.

Proloff relata que um velho ao completar aniversário pede como presente uma hora sozinho no vagão. O pessoal cumpre e se aperta ainda mais no vagão seguinte, tudo para cumprir o desejo do velho. Após essa uma hora ter passado e retornarem, eles o encontram enforcado.

Eu não sei quanto a vocês, mas eu adoro ficar sozinho, acho que eu teria me enforcado bem antes do velho.

O Perfuraneves abriga a humanidade, então como no antigo mundo, a religião é presente. Aqui ela ensina o povo a ser grato e fiel ao santo motor, pois é graças a ele que a galera tá quentinha (extremamente quente no fundo) e não foram mortos pela “Morte Branca”. que é a maneira como eles passam a chamar o frio lá fora.

O papel da religião passa a ter um enfase maior na segunda história, e mostra o quão poderosa ela é. Mas não darei mais spoilers, garanto que você terá uma leitura muito agradável.

O EXPRESSO DO AMANHÃ

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Ah,esse primeiro conto acabou ganhando uma adaptação nos cinemas bem interessante e que foge um pouco da proposta original. É quase outra história, sendo aproveitado apenas o mesmo universo. Por exemplo, o Proloff é interpretado por Chris Evans, o Capitão América, mas ele se chama Curtis.

Eu particularmente gostei bastante do filme mesmo fugindo da proposta da obra original.

Tenho que ressaltar também que no final da graphic novel existe um posfácio por Jean-Marc Rochette e fotos da pré-produção do filme super bacana.

Certamente O Perfuraneves é uma quadrinho – SIM, vou chamar de quadrinho agora – que todos os amantes de uma boa leitura deveria ter. É uma visão bem pessimista do mundo, algo que Jacques Lob deixa bem explicito. É uma pena que Lob tenha falecido em 1990, pois tenho certeza que certamente teríamos muito mais desse congelante universo.

Confiram a animação que conta antes dos sobreviventes entrarem no Perfuraneve: